Nos primeiros quatro meses deste ano, a GNR (Guarda Nacional Republicana) registou 149 acidentes com tratores, com 16 mortos, 15 feridos graves e 46 ligeiros no total do país.
Do conjunto dos sinistros envolvendo estas máquinas agrícolas, 115 foram rodoviários e 34 foram considerados acidentes de trabalho.
Bragança, que até 30 de abril contabilizava 15 acidentes, continua a ser o distrito com maior número de vítimas mortais, quatro só este ano, um ferido grave e três ligeiros, segundo os dados recolhidos pela GNR.
Coimbra é o distrito com mais acidentes este ano, 16 no total, um morto e dois feridos leves. Santarém tem já 14 acidentes, mas não tem mortes a registar.
Os dados da GNR apontam que Braga contabiliza 15 acidentes e três feridos leves. Distrito de Leiria vai com oito acidentes e dois mortos. Em Vila Real um total de 10 acidentes provocaram um morto e um ferido grave.
Em 2021 foram registadas 51 mortes em acidentes com tratores agrícolas. Os distritos com mais mortes foram Leiria, com oito, Braga e Bragança, com sete.
Em 2020 houve 644 acidentes, menos 33 que em 2019, porém, houve a lamentar 45 vítimas mortais, menos nove que em 2019.
Apesar das campanhas de sensibilização para a elevada sinistralidade com tratores, algumas levadas a cabo pela GNR, das mudanças à legislação e ao código da estrada, os acidentes continuam a acontecer. Na passada terça-feira um homem de 29 anos morreu em Armamar, no distrito de Viseu, quando o trator que conduzia caiu de um talude, com uma altura de três metros.
Falta de arco só deu 58 multas
Até 30 de abril, a GNR emitiu 58 autos de contraordenação por falta ou utilização incorreta de arco de Santo António nos tratores, o dispositivo de segurança cujo uso passou a ser obrigatório e que pode ajudar a salvar vidas. Porém, a utilização do arco não é do agrado dos agricultores, que se queixam que “facilita o trabalho mais próximo das árvores, porque bate nos ramos”, explicou João Graça, 86 anos. A fiscalização também é difícil porque na maioria das vezes os veículos circulam em propriedade privada ou em caminhos rurais.
Até há pouco tempo os agricultores cortavam ou dobravam os arcos, ficando mais desprotegidos, apesar de a falta deste dispositivo de segurança ser apontada como responsável pelo elevado número de vítimas mortais ou feridos graves.
O dispositivo de segurança não evita que o trator capote, porém pode impedir que o deixe tombar e rolar, atingindo o condutor. Este é o tipo de acidente mais frequente. “A máquina capota e a tendência é o condutor saltar do veículo para o lado mais baixo, só que o trator tomba para esse lado e apanha o condutor, que fica esmagado”, explicou Vítor Afonso, que conduz tratores há muitos anos, nas propriedades agrícolas em Ousilhão, no concelho de Vinhais.
No mês passado concluiu a formação obrigatória para os detentores de carta de condução de veículos pesados.
Jovens mais preocupados com a segurança, cumprem a lei
Os agricultores mais jovens estão mais sensíveis às questões da segurança. Vítor Afonso, 45 anos, está mentalizado para fazer ajustes. “Temos que nos adaptar aos tempos. Temos que aparar as árvores para podermos trabalhar com os tratores, mas com segurança e com o equipamento de que dispomos. Deixamos as árvores mais altas, cortando as galhas mais propícias de tocar no arco”, explicou Vítor Afonso, para quem a segurança “fala mais alto”, pois fica sempre muito impressionado com a gravidade dos acidentes com estes veículos. “Se os tratores tivessem arco 99, 9% das mortes eram evitáveis”, vincou.
Para conduzir um trator passou a ser obrigatório ter carta de condução. A partir de 1 de agosto os titulares das cartas de condução de pesados têm de comprovar a realização, com aproveitamento, da ação de formação, quem tem só de ligeiros terá de tirar uma carta ou formação especifica para conduzir estes veículos.
A urgência em fazer a formação, porque o prazo está a terminar, têm obrigado Guilherme Vicente, da escola de condução de Miranda do Douro, a organizar sessões em várias aldeias deste e de outros concelhos. “Mais de 400 candidatos já passaram pela formação inicial. A maioria deles com carta de condução de categoria B, agricultores a tempo inteiro ou não”, explicou.
Vítor Afonso, detentor de carta de pesados, frequentou uma formação de 35 horas. “Aprendi a usar o trator e as alfaias, mas a grande componente foi a segurança, desde a posição da máquina em relação ao solo, até ao bom uso do arco”, referiu.
Publicado por GL
Mensageiro de Bragança