O secretário de Estado da Educação, António Leite, disse hoje que é necessário encontrar soluções para evitar a extinção da segunda língua oficial em Portugal, sendo o diálogo com os agentes locais a melhor forma de preservação.
“Teremos de procurar com a autarquia local e com o agrupamento de escolas, qual a melhor forma de combater a extinção do mirandês, e desde logo no meio escolar. Não escondo que uma língua não se mantém, apenas, por vontade de o fazer, ou porque há vontade de uma escola, e por isso estaremos disponíveis para estudar esta situação”, disse António Leite à agência Lusa, em Freixo de Espada à Cinta.
O governante acrescentou ainda que seria muito estranho se estivéssemos a defender a língua portuguesa, como acontece em Timor-Leste e não se apoiasse uma língua oficial dentro do país, como o mirandês.
“Estamos a defender a língua portuguesa em países que, tendo a nosso idioma como oficial, ainda tem dificuldade generalizada na sua utilização, como é o caso de Timor-Leste. Seria estranho, que apoiando a língua do outro lado mundo, não apoiássemos uma língua que é oficial no nosso país”, vincou o governante.
O secretario de Estado da Educação falou à Lusa sobre a situação da língua mirandesa à margem da assinatura de um protocolo, nas áreas da educação e ensino profissional, ocorrida hoje no concelho de Freixo de Espada à Cinta, no distrito de Bragança.
A resposta de António Leite surge na sequência das conclusões de um estudo da Universidade de Vigo (Uvigo), divulgado pela Lusa, que dá conta que o mirandês está numa situação "muito crítica", devido ao abandono desta forma de falar por parte de entidades públicas e privadas.
Lançado no terreno em 2020, o estudo estimou em cerca de 3.500 o número de pessoas que conhecem o mirandês, com cerca de 1.500 a usá-la regularmente, identificando uma rotura com este idioma, sobretudo nas gerações mais novas, através de uma "forte portugalização linguística", assente em particular na profusão dos meios de comunicação nas últimas décadas, e na identificação do mirandês com a ruralidade e a pobreza locais.
Para a UVigo, a manter-se a situação, "a este ritmo é possível que o mirandês morra antes [dos próximos] 30 anos", conservando-se apenas como "um latim litúrgico para celebrações", sem ser "língua para viver a diário", como se lê no estudo que ainda não tem data para apresentação oficial.
A língua mirandesa é uma língua oficial de Portugal desde 29 de janeiro de 1999, data em que foi publicada em Diário da República a lei que reconheceu oficialmente os direitos linguísticos da comunidade mirandesa.
In Lusa