O burro mirandês chegou à primeira página da edição internacional do “The New York Times”, onde o jornal faz um paralelismo entre o destino desta espécie, que sobrevive com subvenções da União Europeia, e as populações dos países periféricos que se viram em apuros e também precisaram de ajuda.
“Não é fácil ser burro hoje em dia”. É assim que arranca o texto publicado em novembro no “The New York Times” e que dá o mote ao tema principal: o burro mirandês, espécie protegida em Portugal, que consegue sobreviver à conta de subsídios europeus.
Recordando que esta espécie sofreu décadas de negligência, a reportagem sublinha que o destino destes burros “acabou por se assemelhar ao dos seus congéneres humanos nas desfavorecidas regiões europeias do interior: ameaçados de extinção e dependentes, para sobreviverem de, sim, de subsídios da União Europeia”.
São esses mesmos subsídios – que estão agora em debate, em plena época de austeridade, no âmbito dos apoios europeus às regiões agrícolas – que têm ajudado à sobrevivência do burro mirandês, que desde 2003 que é considerado uma espécie ameaçada, escreve o jornalista Raphael Minder, que esteve na freguesia de Paradela – concelho de Miranda do Douro – a observar estes “animais dóceis”.
E as ajudas têm surtido efeito. Graças aos esforços de associações, veterinários e ambientalistas, a população do burro mirandês está actualmente estabilizada em torno de 800, sublinha o “NYT”.
Numa altura em que os jovens continuam a migrar das zonas rurais para as urbanas, os burros têm estado também sob essa renovada ameaça: os agricultores que cuidam desta espécie estão a ficar demasiado idosos para o continuarem a fazer. Daí que as associações de protecção se tenham tornado também tão importantes nesta missão. Só a AEPGA - Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino tem ao seu cuidado 140 burros mirandeses. O seu director, Miguel Nóvoa, que é igualmente veterinário, recorda ao “NYT” que até há muito pouco tempo esta espécie “estava em vias de extinção”.
Actualmente, os agricultores recebem 230 dólares de subsídio por cada burro mirandês, o que os levou a manterem os seus animais. “Sem esses subsídios, não faria qualquer sentido, em termos económicos, manter os meus burros, apesar de estar bastante ligado a eles”, comentou ao jornal Gonçalo Domingues, que conta com 70 anos e dois animais desta espécie.
Mas mesmo com as subvenções, é o amor que tem falado mais alto, uma vez que cada burro mirandês tem um custo anual de 650 dólares, salientam alguns peritos ao “The New York Times”. “Os agricultores têm agora os burros mais por amor do que pelos subsídios”, diz Javier Navas, veterinário que está a preparar na Universidade de Córboba, em Espanha, uma tese de doutoramento sobre burros - que contam com 53 raças diferentes em toda a Europa.